quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sol insinuante.

Peguei um ônibus (oh!Grande fato!), mas isso se torna interessante quando ao seu lado senta-se um ser observável - é, ele era passível de descrições um tanto notáveis.
Era um ar, simbolicamente grave, perceptível pela forma do arco das sombrancelhas; Deveria estar no auge dos seus 25 anos, com cabelos pretos (ao vento), um nariz afilado e destacável do corpo; Aparentou-me honestidade (nossa! Que julgamento mais estúpido!) por mais que aquela camisa com o slogan da "Insinuante" não dissesse quase nada (ou absolutamente nada) - pelo menos ele conseguiu uma vaga no capitalismo selvagem. Mas o que insinuava mesmo era a sua calça social preta, debaixo de um sol gigante de verão das 13 horas...Isso nem me diz respeito, porém me indigna a situação das pessoas de não poderem trabalhar com mais liberdade corporal em janeiro ( a compostura total devemos reservar à política - a mais devassa de todas as instâncias).
Qual o sentido disso aqui (novamente)?Acabo de abrir um espaço para afirmar e admitir que me perco nessa salada mista de observações ignóbeis, ainda mais quando se sente dor - torna a minha condensação de idéias, concepção de pensamentos e organização dos fatos muito mais complexas.
Ainda quero dizer (fazendo o possível para permanecer na contextura) que o mancebo ao meu lado tinha um cacoete interessante: não parava de dar pancadinhas (por sinal irritantes) na carteira, que estava na mão esquerda, juntamente com uma vizualização, quase cronometrada, dos ponteiros do relógio (a cada dois minutos) - era a preocupação com o horário nocivo para a absorção dos raios solares, que entravam pela janela, ou o receio de chegar atrasado na "Insinuante" .
Com todos os motivos para se estressar (o que nem é plausível dentro do ônibus), a viagem é curta na cidade, é rotineira e deve ser aproveitada - eu preferi curtir com Manuel Bandeira (uma das minhas mais novas paixões), mas se eu fosse o "cara da "Insinuante" (que pretensão!) eu faria o mesmo que Arnaldo Antunes: pegaria um violão e cantaria "Sem você" (mas com protetor solar).

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